Ludovic é engraçado, mas não de um jeito de palhaço. É um engraçado de pessoa divertida, de bom humor, alto astral; está na merda, mas está rindo. E ele está certo, afinal, quando estamos mal, se aparecem dez pessoas, nove e meia é para te colocar mais para baixo. Então, como ele mesmo diz: “Prefiro que olhem e digam: ‘Nossa, ele está sempre bem, na vida dele tudo é festa e alegria.’ Pelo menos assim não ficam emanando energias ruins.”
Ludovic chegou ao café, esperou um pouco, e logo chegou LF Blake. Sentaram-se na mesma mesa e começaram um bom papo. Eles discutem a escrita, fazem um tipo de jogo: inventam uma sinopse e, então, vivem a cena, tudo de improviso. Segundo Ludovic, é um exercício para LF se soltar e escrever mais.
Não posso dizer nada, pois não sei o que LF Blake escreve, nem como escreve, nem por que escreve. É uma incógnita.
Observo e penso como dois seres tão diferentes, pelo menos na aparência — pois só conheço Ludovic —, podem se sintonizar. LF Blake diz que é falante, mas não tenho certeza disso.
Um todo despojado: jeans, sandálias, bolsa atravessada no corpo, camiseta, óculos escuros. E, em frente a ele, um estilo todo diferente: calça de brim, camisa, sapato.
LF Blake diz que escreve, escreve e reescreve. Ludovic simplesmente escreve.
Acho que seria interessante dar um mesmo tema e observar o que sai de cada uma dessas duas pessoas.
Estão ali conversando, rindo — não sei do quê, mas riem muito. Talvez do menino que espera alguém na mesa ao lado; deve ser alguém importante, pois ele esfrega as mãos e olha o relógio sem parar.
De repente, silêncio na mesa. Ludovic coloca a mão sobre a de LF Blake; os sorrisos desaparecem dos rostos, e os olhares se cruzam. Parece que o silêncio tomou conta do café inteiro. Não se ouve nada. Olhos fixos um no outro. Não se sabe o que vai acontecer, se algo vai acontecer. Até o menino que esperava fica estático, olhando. A menina do balcão deixa a xícara derramar, pois todos os olhares estão presos à mesa número 7.
Ludovic aperta a mão de LF Blake e diz: “BUUU!” e solta uma enorme gargalhada. LF Blake fica sem ação; acho que, no fundo, queria bater nele. Ludovic continua gargalhando, mas LF Blake não se move. Está claro que não gostou do que ele fez. A impressão é de que Ludovic quebrou toda uma cena cujo desfecho não sabíamos, nem se saberíamos. Então ele diz bem alto, ainda em gargalhadas: “Está vendo como uma simples palavrinha de quatro letras pode alterar todo o contexto? A cena toda mudou.” LF Blake não se move.
No balcão, a senha 11 apita: é o meu pedido. Levanto-me para buscar. Quando volto, LF Blake não está mais ali. Fico sem entender. O menino do relógio continua do mesmo modo, olhando o relógio e esfregando as mãos. Ludovic está parado, olhando a poltrona vazia à sua frente. Procuro LF Blake, mas nem sinal.
Será que LF Blake existiu? Ludovic está ali, tenho certeza. Mas estou quase acreditando que LF Blake foi uma ilusão minha. Quem sabe ele era uma criação para idealizar alguém que espero, e acabei criando personagens — sendo eu um deles, Ludovic, e LF Blake minhas expectativas. Afinal, ele era uma pessoa tão interessante.
Santiago, aqueles espíritos que você viu na praça? Tinham expressões, cheiros? LF Blake tinha? Será LF Blake uma doce ilusão? Gás sem combustão? Energia em vão? Caneta na mão, escrevo então: LF Blake.
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