#NOMEUCONSULTORIO 7 – Quando Você Decide Se Envolver Com Alguém Que Não Se Assumiu, Tem Que Arcar Com As Consequências, Mesmo Sendo Doloroso, Foi Escolha Sua

 

 

E há quem diga que eu não seja psicólogo. Vocês acreditam?
Pois é, nem eu.

Pedro e João, 40 e 30 anos, respectivamente: o primeiro, recém-separado, com dois filhos, não se assumiu gay, apenas para alguns amigos íntimos. Já sua família, ex-esposa e filhos não sabem.
O segundo, por outro lado, é totalmente assumido.

Tudo começa com alguns encontros, nos quais se apaixonam e resolvem ter um relacionamento.
Em alguns textos meus, falo sobre ex-héteros se assumirem!

Ponto de discussão: Pedro não se assume por medo da reação, principalmente dos filhos, enquanto João cobra isso, pois sente que não pode viver plenamente o outro lado da relação.
Sim, sei que alguns de vocês estão pensando que é a minha história, mas não é, não. Tenho três filhos, me assumi perante todos. Aliás, acho a minha história meio normal, mas 90% dos meus amigos dizem que não é, que vivi e vivo uma realidade rara para outras pessoas na mesma situação.

Analisando o casal acima, preciso dizer que nunca me relacionei com alguém que não fosse assumido, justamente para evitar essa anulação.
Espera aí… minto. Já me envolvi sim, mas a família dessa pessoa morava bem longe, e ele mesmo não tinha muita convivência com eles. Ou seja, não passei por essa anulação. Contudo, deixei de ter um relacionamento com um médico porque ele afirmou que nunca se assumiria — embora todo mundo soubesse que ele era gay. Mas escolhas são escolhas.

Se João entrou nessa relação sabendo dos conflitos de Pedro, deveria estar ciente de que teria uma longa jornada pela frente.

Para falar de Pedro, vou usar minha experiência.
Quem já passou por isso sabe que se assumir é muito mais do que ir para a cama com outro homem. É lidar com os “porquês” que povoam e atordoam nossa cabeça. São tantos questionamentos que chegamos a nos perguntar: “Sou normal?”
Sim, é isso mesmo. Fomos criados para acreditar que isso não é normal. Mas as pessoas pensam que se assumir gay é apenas fazer sexo com outro homem. Não entendem que existe sentimento. Ninguém vem perguntar para você: “Como é isso? Você está bem? Precisa de ajuda?”
Não. As pessoas julgam, supõem, falam pelas suas costas. E ainda há os curiosos que, sem nenhuma noção, vêm perguntar se é verdade que agora você namora homens. Sim, passei por isso.

No meio dessa confusão imensa que se cria na nossa cabeça, ainda temos que administrar tudo: o desejo carnal, o desejo afetivo e a certeza de que, se não vivermos isso abertamente, estaremos enganando outra pessoa. Hoje, entendo as reações de pessoas que tiraram a própria vida sem se assumirem.

Fiz a opção de não enganar, mas sabia que não seria fácil. Tinha consciência de que haveria um preço. Afinal, não tinha ideia do que me esperava: pais, filhos, ex-esposa, irmãos, parentes e amigos.

A sensação que temos é a de sermos uma aberração. Decidimos viver essa “aberração”, e agora?
Seremos aceitos? Excluídos? Discriminados?

Tenham uma certeza: não é fácil. Nós sofremos, choramos, nos perguntamos milhões de vezes: “O que é isso que eu sinto?”
Claro, as gerações mais novas estão mais resolvidas e determinadas. Mas as gerações de 70, 80 e até alguns de 90 não foram. Há muita gente ainda saindo do armário e de casamentos que eram só fachada.

Por ter vivido isso, sempre que encontro casos semelhantes, ofereço suporte e ajuda na medida do possível. Amigos reais e virtuais, ao saberem da minha história, frequentemente perguntam como foi.

Posso garantir que não foram poucos. Sempre conversei abertamente, mas sei que minha história nem sempre ajuda. Infelizmente, é uma situação que cada um vive sozinho.

A que conclusão cheguei?
Minha história pode não ser base para ninguém, afinal, todos temos criações diferentes. Apesar de ninguém ter me perguntado diretamente como eu estava ou como me sentia, acredito que isso aconteceu porque também foi estranho para eles.

Procurei ser eu mesmo. Não mudei minha forma de ser com ninguém. Talvez tenha me sentido mais livre e aliviado. Mas acredito que, por sempre ter respeitado todo mundo (como fui educado), isso não deu margem para que me desrespeitassem quando tive certeza do que queria.

Ao ter essa certeza, optei por não sair por aí carregando uma bandeira dizendo “sou gay”, mas prometi a mim mesmo que não mentiria para quem perguntasse, desde que fosse alguém genuinamente interessado, e não um curioso fofoqueiro.

Duas pessoas curiosas vieram me perguntar, e eu disse: “Se for curiosidade, minha vida não lhes diz respeito. Se for interesse, vocês não fazem meu tipo.” Fora isso, às demais pessoas, respondi com sinceridade: “Sim, eu me relaciono com homens. Sim, sinto por um homem o que sentia por uma mulher.”

Quando meus filhos perguntaram, tivemos uma conversa aberta. Eu, minha ex-esposa e eles conversamos em particular, explicando principalmente que qualquer relação envolve sentimento, não apenas sexo.

Minha ex-esposa foi um mega apoio. Acho que ela sempre terá um papel crucial na aceitação, seja ela positiva ou não. Sorte minha? Talvez.

Acredito que cada caso é único. Contudo, a verdade ainda é a melhor solução. É preferível um afastamento temporário de familiares e amigos a viver uma vida dupla ou negar ao seu companheiro a vivência familiar.

Minha criação, a educação que dei aos meus filhos e minha coragem foram os três pilares para minha jornada.
Se você está em uma situação parecida, lembre-se: a vida é curta demais para não vivê-la na íntegra.

Se Pedro vai se assumir? Não sei, e ninguém sabe. Essa é uma escolha que só ele pode fazer — assim como João escolheu embarcar nessa história, ciente das consequências.

E ainda dizem por aí que eu não sou psicólogo!

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