E há quem diga que eu não seja psicólogo. Vocês acreditam?
Pois é, nem eu.
Alzirah e Savina.
Podemos escolher com quem nos relacionamos?
Às vezes sim, outras não. Todos sabemos que, quando os sentimentos se manifestam, trava-se uma luta gigante entre a razão e a emoção.
Pois bem, Alzirah caiu nos encantos de Savina. Mas Savina é casada, tem marido, filhos e, há pouco, descobriu esse novo sentimento. Elas vivem uma relação às escondidas, mas Alzirah não aguenta mais as promessas de Savina de se separar, contar tudo ao marido e aos filhos, e poderem viver essa história de amor.
Ao que tudo indica, Savina não irá fazer isso.
Alguns psicólogos defendem que a atitude de Savina ao se descobrir tão tarde pode estar relacionada à criação que muitas mulheres tiveram, onde desejos homoafetivos foram reprimidos. Aos 42 anos, após “cumprir seu papel”, ela finalmente sente que pode viver suas emoções e vontades reais. Concordo com essa opinião.
Claro que podemos tomar partido, dependendo do grau de intimidade que temos com uma ou outra. Como bom turco que sou, Alzirah é minha brima.
O que posso dizer disso? Bom, eu procuro nem me envolver muito com pessoas comprometidas, quem dirá héteros. Uma vez que o sentimento aparece e resolve se manifestar… F***.
Mas, neste caso, a razão já foi por água abaixo. Então pergunto a Alzirah: você tem certeza disso? Ou isso é só um reflexo de Savina poder dar a você algo que talvez sinta falta, mesmo inconscientemente?
Sim, qual o pecado de uma mulher querer casar e ter filhos? Nossa mente é indecifrável. Psicólogos, estudiosos, e até loucos como eu nunca decifrarão os grandes mistérios do nosso cérebro, ainda mais aliado a uma alma divina. Quem sabe o que se passa nesse emaranhado de neurônios?
Fazer Alzirah refletir é uma forma de ajudá-la a tomar uma decisão ou aceitar esse tipo de relacionamento.
Mas o que eu queria mesmo perguntar é: como uma pessoa descobre que tem atração pelo mesmo sexo e se permite viver nessa “jaula”?
Sei que meu caso não serve de parâmetro, mas às vezes parece que as pessoas agem como se viver a homoafetividade fosse condenação à forca. Sim, situações desagradáveis acontecem. Mas, no fim, só ficam os verdadeiros amigos, e todas as máscaras da família caem. Acho que, hoje em dia, assumir-se é uma espécie de seleção natural de quem realmente nos merece.
Meu caráter muda porque gosto de outro homem? Meu jeito de ser com você ou com ele muda? Minha essência muda? Não. Isso apenas revela o preconceito de muitos, pois é fácil dizer que não têm preconceito… até a pedra cair no telhado deles.
Nem vou questionar por que Savina não se liberta. O que me intriga é por que Alzirah se permite envolver-se em uma situação dessas. Será que nosso inconsciente nos move a esses desejos “maternos” e “submissos”? Será que, na essência de Savina, ainda está incrustada a ideia de que uma mulher precisa casar, ter filhos e viver feliz para sempre?
Acho que já passou da hora de reescrevermos as histórias de princesas.
Será que hoje a Cinderela se submeteria a tudo só para, no fim, ir ao baile e casar com o príncipe? Ela conversava com ratos!
A Bela Adormecida? Coitada! Deram Rivotril para ela, e a bichinha dormiu 100 anos.
A Ariel, pelo menos, foi um tanto moderna: desobedeceu o pai e tinha um amigo gay (porque aquele peixinho é gay, gente!). Não me parece tão santinha assim.
A Bela? Bem, ela é caridosa e se deu bem. Não ligou para a feiura e se apaixonou, e a Fera virou aquele príncipe.
Mas, em todas essas histórias, elas foram submissas, seguindo um padrão em que o ideal era ser obediente para ganhar o “prêmio” do casamento.
E quem disse que casamento é prêmio?
Desde cedo, as meninas recebem “aulas” para serem boas amantes, submissas e aceitarem tudo em prol de um “felizes para sempre” que sabemos ser uma grande ilusão.
Hã? A Branca de Neve?
Ah, não esqueci dela. Mas gente, que exemplo aquela deu? Dormia com sete anões. Vão me dizer que só dormia? É como acreditar que a Smurfette não fazia nada naquela aldeia cheia de Smurfs.
E nós, homens? Será que passamos pelas mesmas influências? Afinal, há gays que se envolvem com homens casados. Que forças inconscientes movem essas escolhas? É o desejo de formar uma família? Ter filhos?
A mente humana é um mistério. Cada caso é único, e jamais seremos iguais em comportamentos e atitudes, especialmente quando estão envolvidos afeto e sexo.
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