E há quem diga que eu não seja psicólogo, vocês acreditam?
Pois é, nem eu.
HIV+, e aí?
Se assustou? Arregalou os olhos? Torceu a boca? Pensou? Lembrou de alguém?
Quantas perguntas esse assunto levanta? Mas como fazer? O que fazer? Quando fazer?
No Grindr, o nick dele já informa: “HIV+”.
Alguns vão dizer: “Tô fora”, outros: “Está sendo sincero.”
Não vou nem entrar na questão do preservativo.
Infelizmente, as pessoas ainda, sim, ainda são muito ignorantes quando o assunto é HIV+, sim, e digo isso por um único motivo: Eu não sofri preconceito por ser gay, mas já por ser magro.
Algumas pessoas já me perguntaram se eu era HIV+, só porque sou magro, ou seja, ainda vivem em uma realidade dos anos 90, quando mal se sabia sobre a doença e a “magreza” era um sinal – que poderia ser falso – de ser soro positivo.
Não, não saí com nenhuma dessas pessoas, não que tenha me ofendido, mas mereço, mesmo que sexo por sexo, estar com alguém que tenha um mínimo de inteligência.
Pode-se dizer que tenho uma boa porcentagem de sapiosexual.
Pessoas que pensam assim, que acabam julgando pela aparência, estão bem propensas a se contaminarem, é a minha opinião.
Duas dessas pessoas soube depois que se infectaram. Ambas levam uma vida normal, afinal, é isso que o tratamento, desde que feito corretamente, proporciona.
Enfim, não é o seu corpo que define se você é ou não HIV+.
O que eu penso dessas pessoas? Apenas tenho dó da ignorância, pois, se estivessem antenadas aos acontecimentos, veriam que isso não quer dizer mais nada.
O modelo de HIV+, que foi a magreza de Cazuza, era devido à falta de conhecimento e tratamento do assunto, o que o levou a degenerar.
Hoje em dia, quem é soro+ e faz uso da medicação, é indetectável, leva uma vida normal e muito saudável, se estiver fazendo o tratamento certinho.
Estudos também garantem que os HIV+ indetectáveis, desde que com o tratamento em dia, não contaminam seus parceiros.
Explicações à parte, voltemos ao foco do assunto: O perfil no Grindr avisando que a pessoa é soro+. Contar ou não?
Complicado responder isso.
Conheço pessoas que, no primeiro encontro, antes de qualquer coisa, contam ao seu futuro parceiro que são HIV+.
Já outros esperam as coisas acontecerem, firmarem mais, e depois contam. Se bem que muitos desses acabam também não contando mais, porque o parceiro pode se sentir enganado, e com razão.
E ainda existem aqueles que nunca contam.
É uma situação bem delicada, afinal, só se pode dar certezas quando se vive a situação.
Eu, estando do outro lado, prefiro que me contem de cara.
Hoje em dia, não é mais o fato de ser soro positivo que faz com que as pessoas não se relacionem.
Os sentimentos estão acima desse tipo de preconceito, pelo menos para alguns, e os estudos estão cada vez mais avançados para a cura. E hoje já temos mais opções, como a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), um medicamento que serve para prevenir a infecção pelo HIV. É indicada para pessoas que estejam em situação de vulnerabilidade ao vírus. Sabe aquela escapada sem camisinha? Então, se você faz dessas, procure um infectologista e faça o uso, afinal, basta uma só para se contaminar.
Voltando ao perfil no Grindr, se existe alguém que não queira saber que a pessoa é soro+, não sei, mas é melhor a sinceridade. E o mundo está tão louco que descobri há pouco tempo que esses aplicativos têm um código baseado em emojis que significam algumas informações, como o escorpião.
E veja o que tem na internet: “Escorpião (🦂): a pessoa é portadora de HIV com a intenção de infectar os outros (‘picar’ ou ‘carimbar’)”.
É uma coisa tão louca que um simples balão vermelho significa que você curte ou quer sexo grupal. Sim, está aí nas redes, é só dar um Google que você vai achar lista com mais de 40 emojis.
Quanto ao caso do aplicativo que citei no início, conversei com ele e fiz algumas perguntas, disse também que o citaria aqui.
Ele disse que descobriu que era soro+ por causa de outros exames que foi fazer. Isso já tem mais de um ano. Ele imediatamente iniciou o tratamento e é indetectável.
Ele disse ainda que a grande maioria das pessoas que o abordam no aplicativo estão interessadas mesmo ou em sexo ou em relacionamento.
Seja qual for a proposta, disse ainda que curiosos são raríssimos (me senti um curioso), e que também muitos outros soros+ o procuram.
Perguntei se ele já havia saído com alguém do aplicativo e ele disse que sim, que após muito papo e se sentir seguro, já aconteceu. Sim, assumiu também que, mesmo sendo indetectável, sempre usa preservativo, mesmo que o parceiro também seja soro positivo e indetectável.
Na verdade, ele não tem certeza de como se infectou, pois, pelo que se lembra, só transou sem camisinha com o ex-namorado. Aí está a merda: nunca temos certeza absoluta se fomos traídos ou não, e aí um FDP sai trepando, não usa camisinha e te contamina.
E a coisa pode ficar pior, quer ler? E os homens bissexuais não assumidos, casados, que saem para fazer sexo, não se previnem, nem com camisinha, nem com PrEP? Afinal, como vai explicar que está tomando esse medicamento? E daí leva o vírus para dentro de casa, para a mulher que acredita ter um marido fiel.
Ah, e detalhe: não fiquem pensando que esses homens ou qualquer outra pessoa só vai se infectar se o sexo for com um gay. Héteros também são soro+ e também transmitem.
Mas enfim, certezas e incertezas, perguntas sem respostas, vontades reprimidas, riscos, e assim vamos levando.
Nem sei se deveria escrever que admiro quem conta, pois quem não conta deve ter as suas preocupações, neuras, traumas, ou é um ato de defesa, suas culpas, vergonha.
Complicado julgar ou tomar partido. Tenho pessoas bem próximas que são, e poucos sabem. E quando elas me contaram, desabafaram o medo do preconceito, o receio do abandono, o sofrimento que essas pessoas passam… Vocês não têm ideia do que é. Ouvir elas falarem te comove e aperta o coração.
E não fiquem aí pensando que elas se expuseram. A grande maioria, hoje em dia, é contaminada por sacanagem do outro, ou por um FDP que trai, ou que não conta, ou usa droga compartilhada e não fala.
Afinal, abram os olhos: não se contamina só por sexo com gays, tá? Vai ler, se informar, procurar entender, para não ser mais um bosta ou uma merdinha que não sabe das coisas e faz e fala só merda!
A questão é que, apesar de as coisas estarem muito adiantadas na prevenção, sinceridade e informação nunca são demais.
INFORMAÇÃO, EU DISSE!!!!!!
Viu? E dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo.
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