#NOMEUCONSULTORIO 16 – E O QUE EU FAÇO COM A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ?

 

 

E há quem diga que eu não sou psicólogo, vocês acreditam?
Pois é, nem eu.

Assim vivem Carla, 67 anos, e Arthur, que acaba de completar 40.
Casos separados, mas ambos viveram um grande amor.

Carla convive com sua companheira, que sofre de uma doença degenerativa. A família de ambas nunca aceitou a união delas — e olha que isso já faz muito tempo. Por causa da sociedade e do preconceito, viveram esse amor secretamente, como duas amigas solteironas que moram juntas.

Os amigos que tinham acabaram se afastando em consequência da doença. E aí eu pergunto: amigos? Acho que não.
Carla vive um luto eterno e não sabe se conseguirá suportar o momento da partida de seu grande amor.

Arthur, mais jovem que seu marido, com quem foi casado por 10 anos, perdeu o grande amor de sua vida em seus braços, vítima de um infarto.
Hoje, Arthur não sabe que rumo tomar, para onde ir ou o que fazer. Disse que lhe falta a razão.

Conversando com ele, contei que aprendi, com dores e tristezas, que não é fácil, mas que, por pior que seja a situação, é preciso sorrir. Sorrir sempre. Um sorriso traz outro sorriso, e com ele vêm boas energias, luz e carinho.

Arthur respondeu que, desde o ocorrido, ainda está tentando colocar tudo para fora.
Disse ainda: “Vou procurar meu sorriso de novo. Sempre tive um, mas ele se apagou.”
Espero, sinceramente, ter conseguido fazê-lo refletir sobre sorrir novamente e continuar. Com certeza, outro sorriso virá para povoar o seu coração.

E as dores dessas pessoas?
Acredito que existem muitos tipos de amor. Os consanguíneos, creio, apesar de serem os mais fortes, trazem uma tranquilidade maior, pois já vêm com uma ligação muito intensa. Já os que adquirimos durante o percurso da vida dependem de um cuidado todo especial, pois podem escapar pelos vãos dos dedos. Tenho a impressão de que esses amores são os que mais machucam.

Amar não deveria machucar, mas somos tão imperfeitos e frágeis…
Sim, existem casos de amor consanguíneo que são trágicos e muito dolorosos, mas, mesmo assim, é diferente.

Quando você encontra um novo amor — ou ele te encontra —, há uma explosão de sentimentos que, muitas vezes, nem sabemos definir. Essa explosão cria laços tão fortes e uma cumplicidade tão grande que acabam se tornando raízes incrustadas em nosso peito.

E quando essas raízes são arrancadas assim, brutalmente? Já vi gente morrer de saudade apenas três meses depois que a esposa partiu. Foi muito triste.

O que sobra dentro de nós dessas pessoas que partem?
O sorriso? O abraço? O cheiro? As manias?
Sobra tudo. Sobra tudo e você não tem nada. Porque não há objeto, foto ou qualquer coisa que consiga trazer, nem que seja por um segundo, a sensação de estar ali com ele ou ela.

É aí que muitos caem em depressão. Muitos tiram suas vidas. Alguns vegetam. E outros logo partem ao encontro dessas pessoas.

E o que fazer com essa tristeza?
Nada, a não ser seguir em frente. Seguir de cabeça erguida, sabendo que fez a sua parte. Dizem que “nem uma folha cai de uma árvore sem a vontade de Deus.”
Quando digo isso, não me refiro apenas à morte, mas a tudo: encontros e desencontros, conhecer e sumir, escolher, nascer… enfim, tudo.

Quem fica precisa ter a certeza de que cumpriu sua parte com aquela alma gêmea. Mas, como tudo e todos, chegou a hora dela partir. E isso ninguém segura, atrasa ou adia.

E o que fica?
As boas lembranças, as vivências, as coisas que aprendeu e ensinou. Fica uma nova pessoa, cheia de bagagem, que terá de dividir com outro sorriso que cruzará seu caminho.

Às vezes, dá aquele aperto no coração que te faz sorrir e pensar: “Agora eu vou e vou te encontrar.”
Mas não. É só a saudade se espreguiçando dentro do coração.

Vai chegar um momento em que você falará dele ou dela e chorará, como já fez muitas vezes. Mas essas lágrimas serão de felicidade, por ter tido a oportunidade de amar, ser amado e ter escolhido alguém tão especial.

Tudo isso machuca e leva tempo para se transformar apenas em um sentimento de realização plena. Enquanto isso não acontece, não desista. A vida não para para que você junte seus pedaços, cure suas feridas ou espere as cicatrizes amenizarem. Ela segue. E segue rápida demais.

Não perca tempo no ócio, no isolamento, no desespero ou na tristeza por não ser compreendido. Não perca tempo se achando vítima. Cada um de nós precisa ser um leão, com uma juba imensa e linda.

Na selva em que vivemos, a lei é sempre a mesma: o mais forte sobrevive.

Nunca deixe sua autoestima abalar. Cada um de nós é único, com seus defeitos, qualidades e belezas. Preserve a sua. Use e abuse dela para o bem. Sorria. Seja sempre você, mesmo que precise recuar às vezes. Seja essência e emoção.

Todos temos nossa juba. Às vezes, está um pouco despenteada, embaraçada, com alguns carrapichos. Mas nada que uma boa sacudida não resolva.

A vida está aí para ser vivida.

E não se esqueça: O Luto é uma coisa que se vive só, ele é um sentimento solitário, ele não é uma doença que tem prazo para ser curado. Aprenda que a partir daí você vai ter que aprender, querendo ou não, a conviver com o “não existe mais”.

E, por fim, lembre-se: a vida não espera ninguém.

Viu, e dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo!

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