E há quem diga que eu não seja psicólogo. Vocês acreditam?
Pois é, nem eu.
Velha e Louca? Kiki sempre teve uma personalidade muito forte, sempre quis se desvencilhar de tudo e de todos, ter sua independência e, de certa forma, se intitula às vezes auto-suficiente, pois ela diz: “Se eu pudesse, me comia.”
De sobrenome forte, Kiki Barbosa tem a sensação de que o espírito que está dentro dela não cabe no corpo e quer sair.
Não sabe explicar como, mas sente esta pressão. Quando está em algum lugar amplo, aberto ao infinito, descreve que consegue viajar. Não, ela não usa drogas; aliás, é bem careta em algumas coisas, apesar de muito liberta em outras, como no sexo.
De batom vermelho na boca, como já cantou Malu Magalhães, brincos enormes, um turbante que escapa por baixo de seus cabelos negros e grisalhos, ela diz: “Salum, já posso ser velha e louca” e solta uma imensa e deliciosa gargalhada.
E aí? Velhos? Qual o ponto G para se intitular velho? E louco?
Bom, eu sempre fui louco. Aliás, de louco e santo todo mundo tem um pouco, menos Marilyn, pois, como ela mesma diz: “Nunca fui santa.”
Eu acho que até mais de santo tenho eu. Enfim, que liberdades a maturidade nos traz? Que desprendimentos? Que vontades de fazer isso ou aquilo?
Somos reprimidos desde o nascimento. Primeiro, ficam nos ensinando incansavelmente a andar e falar, depois nos mandam calar a boca e sentar.
Afinal, que porra é essa?
E assim seguimos. Nos ensinam, mas depois dizem que não podemos, e isso, infelizmente, é o natural.
Mas não podemos simplesmente dizer “amém” e concordar com tudo.
Então, nesta idade, citando ela de novo, Malu Magalhães cantou: “Pode avisar que eu não vou, pode falar que eu não ligo, que nunca sei de nada, em cada canto eu vejo um lado bom, agora eu sigo o meu nariz, eu canto, mesmo que um tanto rouca, o que eu tenho de torta, eu tenho de feliz, cambaleio de perna bamba e solta, meu riso? Frouxo, mas não queira tirar ele com algum conselho, afinal hoje, eu passei batom vermelho.”
Seria esta a pessoa? Solta? Velha e louca? De batom vermelho? Às vezes acho que precisamos sim, colocar o batom vermelho e sair do modo como ela canta, nos permitir mais, principalmente nos permitir rir de nós mesmos. Afinal, com certeza eu afirmo: não tem coisa melhor. Que o digam os próximos a mim.
Estamos em um percurso que é muito curto, mas a gente sempre acha que tem tempo. Podemos estar com saudades de onde viemos, e uma hora vamos partir. E aí? O que ficou? Pois só vamos levar o que vivemos.
Precisamos contemplar mais o que nos é dado diariamente, dado sem cobrar. Olhar tudo e todos com amor, ser leve e pleno. Dançar, se soltar, correr, tomar banho de chuva, abraçar, beijar, dar carinho, sorrir. Precisamos praticar tudo isso. Precisamos voltar a ser humanos.
Acredito que com o tempo e a modernidade, fomos enchendo o nosso tempo, fomos deixando isso de lado: a pele, o contato, o cheiro, o toque.
Mude, se permita enquanto ainda há tempo.
Outro dia, outra “paciente” ganhou inúmeras críticas porque pintou radicalmente os cabelos de loiro e os cortou bem curto. Gente, mulher não envelhece, fica loira! Algumas pessoas chegaram ao cúmulo de questionar a sexualidade dela, como se o corte de cabelo definisse a sexualidade de alguém.
Essa ignorância nem me deixa mais com raiva, me deixa com dó das pessoas que se satisfazem em viver o seu dia a dia na ignorância, sem expectativas, sem mudanças e, principalmente, sem evolução.
Pinte seu cabelo de azul, rosa, preto ou amarelo. Corte, raspe, deixe ficar imenso. Isso são mudanças que nos trazem sempre novas sensações, novos ares.
Permita-se. Permita-se viver.
Você já parou e se perguntou: Eu vivi? O que eu vivi?
VIVER não quer dizer conhecer inúmeros países, saber inúmeras línguas, usar marcas famosas e frequentar os melhores lugares.
Viver, no dicionário, quer dizer: “Aproveitar a vida no que ela tem de melhor.”
E o melhor? É o que eu citei acima? Para alguns, sim, mas e para você?
Devem ter pensado mil coisas a meu respeito, né? Mas quer saber?
“Podem pensar que eu não ligo. Agora, amigo, eu tô em outra. Eu tô ficando velha, eu tô ficando louca e, hoje, eu passei batom vermelho.”
Então, permita-se viver à sua maneira, sem rótulos, sem muitas rédeas. Viva com amor, com riso frouxo, cante, pois os males espantam. Se não virem os teus tombos, nem ligue, mas quando for beber aquela pinga, me chama!
Queria dedicar esta análise da Kiki para um grupo de amigas, “As Setentinhas”, que, nesse grupo, eu sou o “bendito entre as mulheres”, e elas estão mais ou menos assim como Malu Magalhães cantou: “Velhas, Loucas e de Batom Vermelho, mas DELICIOSAMENTE AMÁVEIS.”
Viu, e dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo!
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