ME DEIXEM SER QUEM EU SOU

 

 

 

Este texto não é para falar de mim, mas para falar das pessoas que, por algum motivo, ainda estão dentro do armário. Um armário com várias etiquetas como PRECONCEITO, FAMÍLIA, VERGONHA, DISCRIMINAÇÃO, EDUCAÇÃO REPREENSIVA. Enfim, um armário que só quem está dentro sabe como é escuro, doloroso, frio e triste.

Quem é João?
João foi meu ex-amigo, companheiro, namorado, marido. Ficamos juntos exatos 365 dias. Ele foi chamado de volta, e o que vocês leem acima na mensagem da Vanessa é fato. Muitas, mas muitas pessoas podem comprovar isso: o tanto que ele sofreu por não se aceitar. Medo das pessoas, do preconceito, de ser julgado, isolado. E isso tudo, mesmo ele sendo puro amor, uma pessoa que estava sempre a disposição para ajudar, com um sorrisão, com uma palavra, com um abraço de urso como ele dizia.

Um dia, porém, ele explodiu o armário e, como eu costumo dizer, tocou o foda-se. Resolveu viver e ser quem ele sempre foi. E, a partir desse dia — e não sou eu quem digo, mas as pessoas ao redor — até o sorriso dele mudou. Ele se tornou outra pessoa: mais leve, feliz, realizado e pleno.

Se o tempo foi cruel comigo e com ele? Não sei dizer, mas acredito que era para ser assim. Quando recebo mensagens como a da imagem, entendo o porquê de muitas coisas.

João foi uma referência de ser humano. Quando ele finalmente se assumiu, muitas pessoas na mesma situação se sentiram encorajadas a fazer o mesmo. Ao verem a felicidade dele, outros explodiram seus armários. Tudo tinha que ser assim.

Foi muito triste que tenha durado apenas 365 dias, mas foram intensos. E, como as mensagens dizem: foi muito intenso. O que conseguimos transmitir pelas imagens e pela felicidade vivida é algo lindo e encorajador.

Voltando à mensagem, a pessoa que a enviou também é da minha geração e da de João, um pouco mais nova até né Vanessa? Uma geração castrada pela família e pelo preconceito. Mas nunca é tarde para ser feliz e ser quem você é. Quem realmente te ama vai apenas te abraçar e dizer que te ama.

Sim, haverá aqueles que fingirão aceitar, com sorrisos amarelos, apenas para te manter por perto, porque você é conveniente e na primeira oportunidade, te descartarão. Outros vão simplesmente sumir, como se você nunca tivesse existido na vida deles. Também haverá os que falarão mal, como se sua sexualidade interferisse no seu caráter e em quem você sempre foi. Isso inclui família, amigos íntimos, colegas de escola, colegas de trabalho e até estranhos. Esse é o preço que nós, LGBTQIAPN+, pagamos para sermos felizes e sermos quem somos.

Percebi, ao longo do tempo, que, sempre que uma pessoa se assume, algumas pessoas próximas dizem:
“Eu sempre soube, mas fiquei na minha por respeito.”

POR FAVOR, não façam mais isso. A pessoa que está dentro de um armário sombrio, frio, doloroso e triste anseia por uma voz do lado de fora, dizendo que está ali para o que ela precisar. Colocar-se à disposição ou até perguntar sobre isso não ofende. Tudo depende da forma como as coisas são ditas. Respeito não é evitar falar; é acolher.

Eu já fiz isso mais de uma vez, e essas pessoas nunca se ofenderam. Algo como:
“Fulano, você é gay? Estou perguntando porque sinto que pode ser, e, se isso for verdade, pode contar comigo para qualquer coisa. Se não for, tá tudo ótimo também. Nada muda entre a gente!”

Será que uma pessoa que está ali, acorrentada, iria se ofender com uma pergunta dessas? Duvido.

Enfim, precisamos — principalmente nós que já estamos fora — ajudar a explodir mais armários. Precisamos de pessoas felizes, livres e plenas. O que fazemos entre quatro paredes, na nossa vida ou com quem, não diz respeito a ninguém além de nós mesmos e da pessoa envolvida. Por que é tão difícil apenas respeitar?

 

Vanessa Acencio é um dos maravilhoso presentes que João me deixou.

(Divulgue a gente nunca sabe quem está precisando ler isso)

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