E há quem diga que eu não seja psicólogo. Vocês acreditam?
Pois é, nem eu.
Luis adentrou ao consultório aflito, com um papel na mão, e me perguntou o porquê.
Peguei o papel de sua mão. Ali ele discorria sobre a pessoa errada. Li, reli e, cá com meus botões, discorri:
Será que a pessoa certa passou por mim e eu nem percebi? Ou será que deixei a errada partir, e ela é que era a certa? Cadê a minha pessoa errada?
A pessoa certa, quando chega à nossa vida, é perfeita. Faz tudo certinho aos nossos olhos e, digamos, de certa forma, nos satisfaz. A gente espalha aos quatro ventos que, enfim, achamos a nossa metade, que ela é perfeita, que estamos felizes, realizados e até pensamos em casar.
É lindo, mas tem prazo de validade.
Todo dia me acorda com carinhos, me dá bom dia, sempre tem as coisas que eu gosto no café da manhã, se despede ao sair, avisa sempre onde está, me liga se vai atrasar, não esquece uma data de comemorações — até a do primeiro olhar trocado na balada. Acerta todos os presentes, aceita sempre as minhas sugestões para sair, adora toda minha família e meus amigos, só quer sair comigo… QUE SACO!
Cadê aquela palpitação do coração quando não te liga?
Cadê aquela discussão porque não avisou onde estava, mas que depois acaba em beijos?
Cadê aquela ansiedade da espera, de saber se ele ou ela vai lembrar que hoje completamos um ano de namoro?
Cadê aquele telefonema que era para as 15:00 horas e já são 17:00, mas chega com um lindo pedido de desculpas porque o celular ficou sem bateria ou o chefe marcou uma reunião de última hora?
Cadê aquele café da manhã que vem com um lindo copo de achocolatado e você é alérgico a chocolate, mas ele sai correndo, vai à padaria e traz o teu suco preferido? Onde estão as coisas erradas?
CADÊ???? AONDE???
Estou chegando à conclusão de que a pessoa certa é a pessoa errada. Pois esta, sim, vai despertar coisas em mim: sentimentos bons e ruins. E juntos vamos aprender a moldar isso e conviver com tudo.
Será que a minha pessoa errada já passou por mim e eu a deixei passar?
Se isso aconteceu, espero poder ter outra chance. Talvez ela tenha passado uma, duas, três vezes e eu não percebi que, mesmo errada, era a pessoa certa.
Bom, se ela já passou e resolver passar de novo pela minha vida, vou mudar o meu jeito de enxergar as coisas erradas dela para que possam dar certo. Mas, se ela não quiser mais, paciência. Vou sofrer um pouco, mas tudo passa. E vou desejar que ela encontre a pessoa errada que vai fazê-la feliz.
Se a pessoa errada da minha vida ainda não passou, vou estar de olhos bem abertos de agora em diante. Vou parar de me preocupar com a perfeição ou as coisas em comum. Vou deixar de ficar querendo que pense e aja como eu. Não vou ligar se ela não se encaixa perfeitamente ao meu jeito, ao meu ser, à minha forma de pensar e agir.
Passamos a vida procurando a pessoa certa, a alma gêmea, sendo que, na verdade, o que falta para nós é a pessoa errada. Pois esta vai movimentar a nossa vida e fazer com que as coisas aconteçam.
O que está faltando é eu achar o meu avesso. Aí, sim, a pessoa errada será a certa.
Luis saiu, e eu fiquei cá com meus botões, pensando:
Quem é Luis? Luis… Fernando Verissimo.
Viu? E ainda dizem por aí que eu não sou psicólogo!
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