Viu, e dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo!

E há quem diga que eu não seja psicólogo. Vocês acreditam?
Pois é, nem eu.

Miguel chegou com um olho roxo e com uma mão enfaixada.
Minha cara de espanto foi imediata, e perguntei o que tinha acontecido.
Após 6 meses solteiro e enclausurado em casa, resolveu dar uma volta com uma amiga e foram ao shopping. Mas a reação de Miguel a tudo que formasse uma dupla ou par era absurda, e foi nesse ímpeto absurdo que ele adquiriu o olho roxo e a mão enfaixada.

Sentados em um café, comentavam sobre um cara na outra mesa. Miguel dizia que, com certeza, era um hétero: “Olha como pega a xícara, como usa o celular, etc., etc.” Falava tanto que sua amiga perguntou se agora ele se interessava por héteros. A resposta? “Me interesso por homens”, disse ele.

Acredito que estamos vivendo uma crise de ativos, que é uma coisa absurda. Absurda por um lado, boa por outro, pois o ativo pode escolher, mas as responsabilidades aumentaram e muito. E vocês têm que concordar comigo. Claro que, às vezes, o tiro sai pela culatra, e quando você chega na hora H, descobre que está com outro ativo. Por isso, não vejo problema na tão velha e batida pergunta: “Ativo ou passivo?”. E, sinceramente, é melhor saber antes.

Mas, enfim, quando isso acontece, o lance é partir para o TGM. Afinal, precisamos ter sempre uma carta na manga. Hã? O que é TGM? Bom, quando o boy vai ao banheiro, você deita na cama e faz o “Truque da Galinha Morta”. Nem se mexe. É uma saída para quem não curte uma brincadeira entre dois ativos.

Voltando às responsabilidades, vocês já pararam para pensar que sempre quem escuta a pergunta “Foi bom para você?” é o ativo? E se não foi bom? De quem é a culpa? Do ativo, sempre. Além de, na maioria das vezes, o ativo ter que fazer tudo: ele que toma a iniciativa, ele que organiza as posições, ele que mete, que bomba, que mexe. Ele que tem que fazer e acontecer. Só fica deitado quieto quando o(a) outro(a) resolve dar uma de Cacá Ribas ou Doda Miranda e… cavalgar. Haja preparo físico! Cárdio tem que estar em dia. E não estou reclamando, que fique bem claro. Assumo minhas responsabilidades, hahahahaha…

Mas não seria por isso, talvez, o sumiço dos ativos? Será que não querem ser também menos responsáveis? Bom, sei lá.

Mas voltando a Miguel: quando passava por casais, fazia comentários altos como “Não sei por que felizes” ou “Que nojo, esta harmonia”. Mas tudo isso… inveja porque está solteiro. Chegou a publicar que a doceria onde estava realmente era para ele, pois se chamava “Amor em Pedaços”. E ainda na publicação escreveu: “Que amor?”.

O olho roxo foi por causa de um namorado que encrencou com ele, e a mão porque eles entraram para almoçar e, quando ele deu de cara com o saleiro e pimenteiro, deu um murro nos dois, que quebrou e, claro, cortou a sua mão. E mesmo sangrando e com dor, dizia: “Eu odeio estes dois, este par perfeito”.

Questionei Miguel sobre o porquê de estar solteiro. Ele é interessante, bonito, inteligente, tem um bom papo, é uma pessoa comunicativa e tudo mais.
Ainda brinquei dizendo que ele, como ativo, está um produto em falta no mercado, ou seja, a procura é maior.

Nem ele mesmo sabe responder. Acredito que ainda está em uma fase de transição, de um amadurecimento visceral que nem ele mesmo está sabendo como lidar. E talvez a andropausa esteja também influenciando isso tudo.

Estar solteiro é bom? Para alguns.
Para quem está, pode ser bem confuso e complicado, pois chegam a se perguntar: “O que há de errado?”. E não tem nada de errado. É que, para algumas pessoas, estar sozinho não é uma opção para a vida. E não venham com aquele papinho de se amar, de amar a sua solitude, de estar bem sozinho, com a sua companhia. Cada um é cada um.

Mas, se até uva passa, essa crise vai passar. E espero que ele agrida menos os pares que venha a encontrar por aí e ele mesmo. Pois ainda verá muitos e muitas declarações, mesmo falsas. Afinal, quando se está namorando, tudo vira love.

Viu, e dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo!