Consigo me apaixonar de novo?
E, por que não? Respondo à Lola.
Ela, ainda meio confusa, diz que nem sabe por quem, que na verdade nem sabe se quer.
“E você, Salum? Você acha que ainda vai se apaixonar?”
Eu?
Eu não sei. Não sei como ele é, não sei a textura da sua pele, não sei o seu cheiro, não sei como são seus carinhos e nem o sabor dos seus beijos.
Eu ainda nem sei se existe esse alguém que queira — e vá — ser meu companheiro, meu parceiro. E, se tivesse uma pitada de um menino arteiro, ah! Seria perfeito.
Eu ainda não sei se ele sonha, se dorme abraçado ou quer a cama só para ele.
Eu ainda não sei se, quando eu deixar para ele um bilhete com “P.S.: Eu te amo”, sua resposta vai ser um simples “Eu também” ou uma declaração de amor.
Eu ainda não sei o que ele gosta no café da manhã, se tem almoço, lanche e, no jantar, maçã.
Eu ainda não sei os seus horários vagos, os ocupados e os que a mim serão destinados.
Eu ainda não sei se, quando ele chega, está de bom humor ou se este se perdeu no metrô.
Eu ainda não sei se seu banho é quente, se o shampoo é neutro e o sabonete, branco.
Eu ainda não sei se ele gosta de ler, de se divertir e de sempre rir comigo.
Eu não sei se ele não vai implicar com meus textos e com a forma como escrevo — que, aliás, isso sempre é um problema.
Eu ainda não sei.
Eu só sei que quero, sim, me apaixonar e amar, e me deixar amar.
Eu só sei que quero apostar de novo, ficar — quem sabe? — um bobo.
Eu só sei que quero estar ao lado dele e, de novo, estar apaixonado.
Como você, Lola, sou tão cheio de vontades, de desejos. Deve existir, sim, quem não queira mais se apaixonar, mas esse não sou eu.
Nosso problema, Lola, é acreditar demais, nos doar demais. E aí, por mais que não esperemos a mesma coisa, não temos nada de volta. E, nessa altura, nossas decepções são gigantescas, e muitas vezes nos encontramos nesse abismo.
Lola ainda está arredia quanto ao amor, ao amar e se deixar apaixonar. E quem não fica, quando levamos uma surra da vida?
Mas essas surras servem para nos deixar mais seletivos. Como disse ao Carlos, um grande amigo mexicano: “El sexo está en la esquina. Quiero que alguien tenga una familia, que es parte de mí con mis hijos y que… sí, difícil.”
Mas, enfim, se acreditamos e se queremos, não podemos desistir.
Não que sejamos a metade de alguém — ninguém é metade. Somos inteiros e, junto com outro inteiro, formamos um.
Falando nisso, ouvi uma história este fim de semana que era exatamente isso: os dois, inteiros, formavam um. E eu, que cheguei a julgar o referido casal sem saber da verdadeira história, hoje rendo minha admiração à conduta dos dois quanto ao relacionamento.
Acredite: a paixão existe. Eu, particularmente, a acho perigosa, traiçoeira… mas existe. Existe o amor, e existem ainda pessoas que acreditam em cumplicidade, companheirismo, fidelidade, carinho, união.
O olhar de Lola não é o de quem acredita em tudo isso, mas só o tempo poderá mostrar a ela se isso tudo ainda faz parte da sua vida. E só ela pode fazer a escolha: continuar acreditando e procurando ou simplesmente excluir isso da sua vida.
Às vezes, me sinto cansado. Não sei se desisto ou insisto.
Viu? E dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo!
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