E há quem diga que eu não seja psicólogo. Vocês acreditam?
Pois é, nem eu.
Miguel volta bem confuso.
Acredito que Miguel esteja entrando no prumo, e por isso tantos questionamentos e tantos porquês.
Como sempre, se jogou ali, mas hoje foi no chão e me perguntou:
— Salum, você acredita em grandes amores?
Um filme passou pela minha cabeça em questão de segundos. Respirei fundo e respondi:
— Eu acredito em grandes amores, mas isso não quer dizer que vou poder ficar com eles.
— O QUÊ?! — exclamou ele. — Você está louco? Como pode acreditar e ainda aceitar não tê-los?
— Eu acredito e sempre disse isso. Só nunca disse que acredito que nem sempre podemos tê-los. Hoje, minhas expectativas com relação a namoros são muito racionais. Não acho que sentirei mais aquela sensação de que a gente parece estar flutuando, aquela batida do coração na garganta. Acho que estou cansado, mas mesmo assim acredito em grandes amores, porque eu já tive um.
O amor consome a gente. Chega ao ponto em que não acreditamos que aquilo possa estar existindo.
Aquela angústia do telefone que não toca e da hora que não passa. Aquele amor que daria para escrever mil histórias e milhões de poemas. Aquele amor que você aprende e… ensina. E que você para e pensa: Será que sou merecedor de tudo aquilo que estou recebendo?
Sabe, aquele que a gente diz: “É o amor da minha vida”.
Quando você acha essa pessoa, você afirma: “Agora é pra sempre, este(a) é o AMOR DA MINHA VIDA”.
Sim, pode ser sim, com certeza. Mas sabe o que se esqueceram de lhe dizer?
Que este pode ser o amor da sua vida, mas mantê-lo é outro papo. Ficar com ele é outra história. E o pior: quem disse que você é o grande amor dele?
Podemos ter esse amor, mas ficar com ele é outra história. Primeiro, porque no mundo real o amor não conquista tudo, como nos contos de fada e filmes românticos. E se Richard Gere chegar em uma limusine branca com um ramalhete de flores, você pode até sair pela janela e ir embora com ele, mas acordar o resto da vida ao lado dele todo despenteado e com bafo… hummmm.
Existem diferenças que o amor não resolve. O príncipe que casa com a serviçal e tudo fica bem? Hahahahaha… Gente, parem com isso. Caiam na real. Existe um conflito imenso entre classes sociais e um preconceito estampado com essas diferenças, que só não vê quem não quer.
“Até que a morte os separe”… o escambau! Quanta gente abandona o amor da sua vida por causa de uma doença? Muitos. Quero ver conviver com uma pessoa vegetativa. Se isso acontecer, aí sim se pode dizer que é amor.
Tenho uma amiga, Manuella, que acredito ter encontrado o amor da sua vida, mas está separada dele. Sim, porque os sonhos não batem. Os desejos, os anseios. E isso não quer dizer que ele não seja o amor da vida dela. Ela quer uma casinha, três filhos e uma vida tranquila fazendo caridade. Ele quer um apartamento em Manhattan.
Daria certo os dois juntos? Nunca.
E não existe amor que faça isso mudar. Um pode até ceder, mas na primeira briga vai jogar na cara do outro.
Você pode querer colocar uma mochila nas costas e sair a dois, percorrer o mundo, mas ele(a) não tem coragem. E sempre quem acaba abrindo mão desses sonhos vive uma vida frustrada.
Sabe a maior prova de amor que eu acho que existe? Deixar o outro ir.
Às vezes, esta é a única escolha.
Não viver ao lado do grande amor da sua vida não desqualifica o seu significado nem o seu sentimento.
E muitas pessoas podem nos amar muito mais e mais intensamente em oito meses do que outra nos amaria em vinte anos.
Alguns amores ensinam uma vida para você em dois dias, e outro passa quinze anos e não te ensina nada.
Em algum texto meu, comparo a vida a uma estação de trem. Você está ali, e a cada trem que para, algumas pessoas chegam, outras partem. Algumas descem, dão uma volta e seguem. E assim são as pessoas em nossa vida. Algumas delas entram em nossa vida apenas por dias ou horas, mas o impacto que elas causam faz uma mudança na nossa vida que ninguém poderá substituir. E quem disse que uma pessoa dessas não pode ser o grande amor da minha ou da sua vida?
Tudo depende do que aconteceu, de como aconteceu.
Temos grandes amores, e quase nunca ficamos com eles.
E muita gente nem tem a oportunidade de ter grandes amores ou amores de uma vida.
Se você já encontrou um, dois ou três amores da sua vida, esteja bem feliz. E mesmo que não possa ficar com nenhum deles, tenha a certeza de que o amor tem o mesmo significado, e o que você aprendeu e ensinou é que fez a grande diferença.
Eu, particularmente, não sei se conseguiria deixar livre um grande amor. Ou talvez até já tenha feito isso e não percebi. Ou percebi?
Mas ainda procuro grandes amores para a minha vida.
Não sei onde ele está. Se está com alguém ou está sozinho me esperando. Se eu vou achá-lo ou ser achado. Não sei se teremos diferenças — e espero que sim — ou seremos iguaizinhos. Apenas quero que ele seja o grande amor da minha vida.
Viu? E dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo!
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