#NOMEUCONSULTORIO 59 – QUANDO O MACHO ALFA DOS ANOS 80 SE TORNA O “BOY” DO SÉCULO 21.

 

 

E há quem diga que eu não seja psicólogo, vocês acreditam?
Pois é, nem eu.

Sabe aquele cara que sempre soube que era gay, mas teve a vida interpretando um personagem hétero?
Pois é, este é Samuel, hoje com seus 50 e poucos anos, se já não tiver 60 já foi o Macho Alfa da cidade, quando a palavra BOY significava o “hétero desejado” da época , estou falando de meados de 1985/86, época em que muitos “boys” passeavam só de sunga em suas motos Ninjas em frente ao colégio Dom Bosco e várias meninas, inclusive amigas minhas se derretiam por eles, e tudo bem, isso faz parte da época em que os hormônios estão à flor da pele e existe todo aquele jogo de caça e caçador.

Lembro bem dos detalhes porque eu e outros colegas, franguinhos desajeitados, só ouvíamos os suspiros das colegas pelos caras e nossas chances iam ralo abaixo; eles com uns 10 anos a mais que nós, no auge dos seus 25 anos, esbanjando testosterona.

O tempo passou, ele pegou algumas mulheres, mas nunca “se apegou”, e essa é a melhor desculpa para um gay enrustido, pois ele acaba sendo visto como o hétero, gatão, bonzão que não se “prende”.

Samuel pensa que está apaixonado, e isso na situação dele não é nada bom.
Puxou papo com um cara que vamos chamar de Sr. S. que viu o contato em um grupo, se falaram, marcaram, saíram, ele gostou, e bastante, tanto que quis repetir, uma, duas, três vezes, mas… não contava com uma coisa, um detalhe que muitos gays não assumidos, quando a cabeça de baixo começa a pensar, esquecem; o detalhe é que o Sr. S. conhece os sobrinhos dele e alguns amigos, afinal, hoje em dia, principalmente a geração mais nova tem muitos amigos gays assumidos, e Campo Grande, por mais que tenha Grande no nome, é um ovo.

E agora? Toda aquela mentira de ser casado e estar brigado com a esposa que Samuel contou caíram por água abaixo, e ele deve ter se sentido um idiota, tipo, o Sr. S. está comigo, sabendo que eu não sou esse que digo.
Ele está se apaixonando pelo Sr. S. , quer estar com ele todo dia, sempre que dá, ficou meio aflito com esta informação, afinal, ele pensava que estava tão seguro na sua obscuridade e viu que está totalmente exposto.

Samuel, o que posso te dizer? Você disse que Sr. S. é de confiança, que bom, porque se não fosse, o teu segredo poderia estar aí, jogado ao vento; quanto a isso, digo sempre: se você é um gay não assumido, cuidado com grupos e aplicativos, você entra lá e, no envolvimento do tesão, não diz teu nome, mas manda sua foto sem ter certeza quem está do outro lado, e é geralmente assim que acontecem as grandes merdas na vida dos gays casados que passam por héteros ou dos que ainda não se assumiram; mas enfim, dos males os menores, você não é casado e o cara é de confiança.

Quanto a estar se apaixonando… penso que, por você viver este tempo todo no anonimato, com certeza não teve envolvimento com ninguém, e aí, quando acha alguém que te dá atenção e te trata bem, se apaixona.
Se apaixonar é ótimo, e as paixões normais já trazem grandes consequências, estas então nem se fala.
Sr. S. vai querer que você o assuma e se assuma, e aí? Como será?
Não são todos que concordam em viver uma relação secreta e anônima, a não ser que sejam amantes, mas e aí? Ele quer? Que direito você tem, ou prioridades?
Até para ser amante a coisa é complicada, principalmente no seu caso, que não se assumiu, e o ciúme? É, amante não pode ter ciúmes, e você está desprendido deste sentimento?

Engraçado que você não é o primeiro a me contar histórias assim, e eu penso aqui com meus botões: se quando a vida joga uma situação desta no seu colo, não está querendo dizer algo a você, algo que não sou eu que vou traduzir ou decidir o que fazer, mas… só você.

Samuel, chegou a hora de algumas escolhas, aliás, é o que fazemos a vida toda.
Quer ser o amante do cara? Vai ter que engolir o ciúme, aceitar horários e dias em que serão possíveis aos dois e não poderá cobrar nada nem exigir; talvez até seja bem bom, rsrsrsrsrs… Isso se ele topar te ter como amante.
Quer ser “o matriz”? Hum! Chama mamãe, irmãos e sobrinhos e anuncia o novo namoro, apresentando o boy em um lindo almoço ao domingo.

Ah, um detalhe que ia passando despercebido: Sr. S.  é comprometido. Quando começaram não era; daí, arrumou um namorado, e Samuel não gostou porque os encontros esporádicos acabaram; depois disso Sr. S. ficou solteiro de novo e passaram a se reencontrar; mas assumir… Samuel não tem coragem, e Sr. S.  deixou claro: ou me assume ou só me tem se eu tiver solteiro.

Querem saber como Samuel ficou sabendo que o Sr. S.  já o conhecia desde meados de 1986? Sr. S.  viu uma foto de Samuel com uma daquelas amigas da época do Dom Bosco e perguntou para ela quem era; ela prontamente respondeu: “Ele é o Fulano (disse o apelido que usava na época), lembra?” “Sim, lembro, e agora vocês estão juntos?” Ela, bem ligeiro: “Não, somos só amigos, ele nunca apareceu com namorada nenhuma.”

Mas esse fio tem outra ponta. Sr. S. estava em uma festa com alguns amigos e, em determinado momento, quem aparece na festa e cumprimenta um dos amigos na mesa? Samuel, que é tio de um dos amigos do Sr. S. . O mundo é um ovo, ou talvez menor.

E como estão hoje? Quando Sr. S. está solteiro, continuam se vendo; Samuel não se assumiu, os sobrinhos não sabem dele e continuam amigos do Sr. S.  que sai com o tio que já foi o Macho Alfa dos anos 80.

Viu, e dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo!

(quem prestou atenção vai ter muita coisa a dizer, rsrsrsr)

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