E há quem diga que eu não seja psicólogo. Vocês acreditam?
Pois é, nem eu.
Que sexo é bom, todos nós sabemos; se todos fazemos é uma coisa, se estamos na ativa outra coisa, mas cada um com seu cada qual. Afinal, viver o sexo virou uma coisa até que bem complicada, pois até por isso somos julgados; é uma merda, né? Mas até por fuder somos julgados, sim.
Julgados por com quem fudemos, por que tipo de corpo gostamos, se gozamos ou não, se demoramos, se temos tesão no pau ou no c*, se quando é passivo fica ou não de pau duro… Enfim, o povo acha alguma coisa para virar polêmica, ao invés apenas de ir lá, procurar alguém que lhe dê prazer, transar gostoso, gozar, tomar um banho gostoso e pronto, vida que segue.
Mas não, o lance é criar polêmica, e a grande maioria dos que falam e julgam não estão nem transando.
Salum, li acho que dois textos seus que você fala de ressaca sexual; em algum momento eu me sinto daquele jeito, sabia?
Aqui entre nós, para quem transa até 6 ou 7 vezes por semana, se sentir assim nem seria estranho, né?
Ok, eu sei que você, leitor, está pensando: 6? 7? Claro que não é toda semana isso. Mas a pessoa em questão não passa uma semana sem ao menos transar umas 4 vezes, no mínimo, e às vezes acontece sim de ser 7. E calma, não estamos falando de um reprodutor ou um garanhão, e muito menos um Don Juan; o assunto é sério. Ele mesmo atribui isso a FUGA.
Estamos falando de Miguel, um conhecido de quem acompanha os textos.
Achei ele mais sério e bem menos empolgado hoje ao conversar.
— Miguel, por que se sente assim, com a tal ressaca sexual?
Pelo que você escreveu da sua experiência e das outras pessoas lá, é como se, após o sexo, a sensação seria até de estômago embrulhado, de se perguntar por que transou daquele jeito ou com aquela pessoa.
— Sim — respondi a ele —, é isso mesmo, quase que um arrependimento, ou melhor, é um arrependimento sim.
Talvez seria melhor ter feito um % contra 1 ou descabelado o palhaço, mas daí a coisa já está feita e a porra já foi desperdiçada ou engolida.
— Então — diz ele —, muitas vezes me sinto assim. Você sabe como eu sou, quero um relacionamento, gosto de estar dentro de um, sou sério, levo isso a sério, curto, valorizo, me entrego, faço de tudo, mas percebi que está cada dia mais difícil e assumo que uma forma de isso não virar uma enorme ansiedade ou depressão tem sido essa maratona sexual. Pelo menos o tempo que estou ali, sejam 40, 50 minutos ou até uma noite dormida juntos — sim, alguns eu até convido para dormirem —, pelo menos nesse tempo tem aquela sensação de se ter alguém. Eu diagnostico isso como uma fuga minha, já que não tenho alguém fixo para viver e ter isso, foco nesses momentos, mas tenho percebido que essa sensação de ressaca tem aumentado.
— Eu já tive essa sensação, Miguel, mas sei que foi porque deixei a cabeça de baixo falar mais alto que a de cima e acabei escolhendo o “parceiro” mais pelo tesão cego do que aquele tesão que você pesa todos os seus gostos. E só depois de gozar você olha e vê que aquela pessoa não tem nada a ver com você, que aquele corpo na verdade nem te dá tanto tesão, que agora pós-gozada você nem transaria com aquela pessoa.
É bem estranho, e só nesse momento você percebe que aquela cabeça ali embaixo, que vive escondida, quieta, na dela, tem às vezes um poder que precisamos cuidar; muito ela pode fazer um estrago bem grande.
Se você acredita que essa sua loucura por sexo seja uma fuga por estar sozinho e isso não está te fazendo mal, eu acredito que tudo bem; sou daqueles que faço o que me sinto bem.
Mas se você se sente mal e se essa sensação da ressaca te incomoda… aí é outra coisa, pois em bem como é ela.
— Ela ainda não me incomoda ao ponto de parar — diz Miguel. — Aliás, quero te fazer uma pergunta e quem sabe até um convite: você já fez a três?
Viu,e dizem ainda por aí que eu não sou psicólogo!